A Conquiliologia “não convencional” no Brasil ! ...

08-03-2011 18:07

 

 

A CONQUILIOLOGIA "POUCO TRADICIONAL" NO BRASIL

Avulsos Malacológicos - AM - Florianópolis, Brazil

 

               Trazendo a tona às históricas palavras do grande zoólogo e divulgador científico brasileiro Eurico Santos (SANTOS 1982: 119, 121-122) (sic):

 

“... Conquiliologia é a arte de colecionar conchas ..."

 

“... Uma coleção de conchas é realmente qualquer cousa de maravilhoso.” “... A classe onde encontramos os mais belos e curiosos indivíduos é, sem dúvida, a dos gasterópodes.” “... Dos animais da classe dos bivalves em geral apenas se encontra uma valva, mas devem ser colecionados sempre que possível as duas conchas unidas pelos ligamentos ...” “... Conviria, embora custasse um pouco, que uma coleção de amador também tivesse valor científico ...”

 

https://www.conchasbrasil.org.br/curiosidades/default.asp?recid=12

  

            Pouco conhecidos, devido há despertar muito pouco interesse no público em geral pelo seu aspecto, tamanho e constituição estrutural, temos três (3) importantes grupos de moluscos – especificamente marinhos – cujo interesse no âmbito Conquiliológico certamente resulta “não convencional” no território do Brasil (especialmente para aqueles que se iniciam no mundo da coleção de conchas), porém sendo importantíssimos integrantes da Fauna Malacológica que igualmente merecem toda nossa necessária atenção, sendo eles em geral os chamados “Quítons” (POLYPLACOPHORA), “Dentes-do-mar” (SCAPHOPODA) e “Polvos-de-concha” (CEPHALOPODA), as magníficas e curiosas criaturas invertebradas que nos ocupam brevemente a seguir nesta oportunidade:

 

DENTES-DO-MAR

          Conforme a literatura técnica malacológica disponível, "SCAPHOPODA (do grego Scaphe: barco; Podos: pé), é sem duvida uma das Classes mais primitivas do Phylum Mollusca, cujos animais apresentam simetria bilateral; concha alongada que lembra a forma da presa ou dente incisivo de um elefante, pontuda, tubular e curva que diminui gradualmente e é aberta nos dois bordos (sendo a abertura anterior maior que a posterior), formada exclusivamente de Aragonita; sendo providos de cabeça cilíndrica em forma de disco, desprovidos de olhos, com mandíbula e rádula de formula 1.1.1.1 e aparelho característico (captácula); com abertura anal pouco adiante da cavidade do manto, pé, respiração cutânea e coração rudimentar; sexos separados; vivendo enterrados desde as linhas de baixas mares ate grandes profundidades, com a maior abertura na lama ou areia (ligeiramente inclinado) deixando a extremidade posterior projetada para fora, sendo que os produtos da digestão, as trocas respiratórias e os produtos genitais são lançados por esta abertura ao exterior.

               Conforme especialistas (RIOS 2009: 444 – 457; THOMÉ et al 2010: 87, 207), atualmente são conhecidas/ registradas para o litoral oceânico do Brasil em geral um total de 35 espécies de moluscos Escafópodes (Scaphopoda), incluídas em 14 gêneros, 6 famílias e 2 ordens. Previamente, há uma década atrás, para nossa línea costeira e plataforma continental eram estimadas – e até hoje – um total de 50 formas (SIMONE 1999: 133 – Tabela 1), porém com apenas 31 espécies conhecidas/ registradas, incluídas em 12 gêneros, 6 famílias e 2 ordens.

               Eventualmente utilizados para artesanato em nosso meio, são popularmente conhecidos como "Concha Presa", "Dente", "Dente-de-elefante" ou "Dente-do-mar". Em geral, esta é uma curiosa Classe de moluscos marinhos escavadores, composta por escasso número de gêneros, sendo raros os estudos no Brasil que visam aprofundar no seu conhecimento.   

               Maiores informações acerca deste interessante grupo de primitivos moluscos marinhos com relativo interesse Conquiliológico(*), podem ser obtidas ainda visitando os seguintes endereços virtuais:

 

CLASSE SCAPHOPODA

https://www.conchasbrasil.org.br/materias/scaphopoda/default.asp

 

SCAPHOPODA

https://www.conchasbrasil.org.br/conquiliologia/familias.asp?idclass=7&idamb=1

 

RECORDES PARA CONCHAS BRASILEIRAS – SCAPHOPODA

https://www.conchasbrasil.org.br/records/familias.asp?idclasse=7

 

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(*) DENTALIIDAE

https://www.femorale.com.br/shellphotos/thumbpage.asp?family=DENTALIIDAE&cod=2801

https://www.femorale.com.br/shells/thumbpage.asp?family=DENTALIIDAE&cod=2801

 

(*) GADILINIDAE

https://www.femorale.com.br/shellphotos/thumbpage.asp?family=GADILINIDAE&cod=2803

 

(*) GADILIDAE

https://www.femorale.com.br/shellphotos/thumbpage.asp?family=GADILIDAE&cod=2808

              

 

               Convêm todavia advertir que, eventualmente, podem vir a ser confundidas com Escafópodes (Scaphopoda) – ou mesmo com fragmentos destes – conchas tubulares e curvadas de certos representantes GASTROPODA da Família CAECIDAE(*), pequenos e curiosos moluscos marinhos que geralmente ocorrem em ambientes paralelos (RIOS 2009: 94-100).

 

(*)CAECIDAE

https://www.conchasbrasil.org.br/conquiliologia/especies.asp?idfamily=133

https://www.femorale.com.br/shellphotos/thumbpage.asp?family=CAECIDAE&cod=1037 

 

 

QUÍTONS

               De acordo com a literatura técnica malacológica disponível, "POLYPLACOPHORA (do grego Polys: muito; Plakos: chapa, placa = que tem muitas placas) é uma das Classes do Phylum Mollusca, cujos animais apresentam simetria bilateral; corpo achatado dorso-ventralmente; sendo providos de cabeça, tentáculos, olhos, manto, pé, brânquias externas, rádula e um par de "metanefridia ligadas ao pericárdio". Concha formada de oito placas transversais. Vivem em água de pouca profundidade, as vezes presos as rochas ou objetos duros, sendo difícil apanhá-los inteiros, devido ao vácuo que se forma entre o pé e a superfície sólida, a qual estão fixados. Pé ocupando toda a porção ventral do animal."

               Informações visuais práticas, que vem auxiliar de imediato o reconhecimento morfo-taxonômico básico dos representantes da classe no Brasil, podem ser obtidas consultando o seguinte endereço virtual:

ESTRUTURA DOS CHITONS

https://www.conchasbrasil.org.br/materias/chitons

              
               Popularmente conhecidos como “Chitons ou Quítons”, conforme especialistas (RIOS 2009: 3-20; JARDIM & SIMONE 2010 a-b) atualmente são conhecidas/ registradas para o litoral oceânico do Brasil em geral um total de 34 espécies de moluscos poliplacóforos (Polyplacophora), incluídas em 12 gêneros, 4 famílias e 1 ordem.

               Previamente, há uma década atrás, eram apenas conhecidas/ registradas para nossa línea costeira e plataforma continental um total de 25 formas (SIMONE 1999: 133 – Tabela 1), incluídas em 8 gêneros, 3 famílias e 1 ordem.

               Maiores informações relativas a este notável grupo de moluscos marinhos com manifesto interesse Conquiliológico(*), ainda podem ser obtidas visitando os seguintes endereços virtuais:

 

CLASSE POLYPLACOPHORA

https://www.conchasbrasil.org.br/materias/polyplacophora/default.asp

 

POLYPLACOPHORA

https://www.conchasbrasil.org.br/conquiliologia/familias.asp?idclass=2&idamb=1

 

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(*) ACANTHOCHITONIDAE

https://www.femorale.com.br/shellphotos/thumbpage.asp?family=ACANTHOCHITONIDAE&cod=2508

 

(*) CHITONIDAE

https://www.femorale.com.br/shellphotos/thumbpage.asp?family=CHITONIDAE&cod=2506

 

(*) ISCHNOCHITONIDAE

https://www.femorale.com.br/shellphotos/thumbpage.asp?family=ISCHNOCHITONIDAE&cod=2504&nav=3&prov=

https://www.femorale.com.br/shells/thumbpage.asp?family=ISCHNOCHITONIDAE&cod=2504   

 

(*) LEPTOCHITONIDAE

https://www.femorale.com.br/shellphotos/thumbpage.asp?family=LEPTOCHITONIDAE&cod=2501

 

               Em líneas gerais, e apesar de uma bastante recente maior atenção, os reduzidos níveis de interesse que vem sendo demonstrados pelos anteriores grupos de moluscos marinhos no Brasil (POLYPLACOPHORA e SCAPHOPODA) fica nitidamente refletido através da relativamente escassa bibliografia técnica produzida no país acerca dos mesmos.

               Apenas nos passados XIX e XX Encontros Brasileiros de Malacologia (EBRAMs) – Rio de Janeiro 2005 e 2007 – os referidos grupos vieram receber a devida atenção, pela 1ra. vez em destaque, a sua importância no âmbito malacológico nacional(*).

 

(*) https://www.sbma.uerj.br/_recursos/pages/ebram.php

 

               Revisando a literatura malacológica disponível encontramos ainda, entre os famosos textos históricos que o zoólogo e divulgador científico brasileiro Eurico Santos (SANTOS 1982: 25-26, 119, 121) deixou à posteridade, breves – porém substanciosas – “observações pessoais” especificas acerca das marcantes características e particulares modos de coleta destes por ele denominados “moluscos marinhos pouco conhecidos”.

               Considerando que ainda hoje estima-se a existência de um total aproximado de 150 espécies de QUÍTONS para águas litorâneas e territoriais brasileiras, além de 50 espécies de DENTES-DO-MAR (SIMONE 1999: 133 – Tabela 1), é o nosso parecer que dita situação estatística deveria resultar como suficiente incentivo para “estimular e propulsar” ainda mais o seu efetivo estudo e paralela inclusão no acervo das coleções conquiliológicas, tanto institucionais como particulares.

 

POLVOS-DE-CONCHA E OUTROS CEPHALOPODA DE INTERESSE CONQUILIOLÓGICO NO BRASIL

https://www.conchasbrasil.org.br/materias/cephalopoda/colecao/default.asp

 

               Apropriadamente descrita na literatura técnica malacológica, “CEPHALOPODA (do grego Kephalee: cabeça; Pous, Podos: Pés = pés na cabeça)” é sem duvida alguma o grupo de invertebrados mais evoluído; moluscos de simetria bilateral, com corpo alongado no eixo antero-posterior, destacando uma cabeça anterior, mais o menos globuloide e muito desenvolvida (assim como os órgãos sensoriais), a qual esta inserido o pé, transformado em braços com ventosas na sua superfície ventral (coroa ou anel de tentáculos em volta da boca, rodeada por lábios, e provida de uma mandíbula escura, ponteaguda, com rebordos cortantes curvos, que lembra o bico dos papagaios) em numero variável, apresentando também longos tentáculos nalguns dos seus representantes (em geral, Lulas e Sépias possuem 10 tentáculos – 8 do mesmo tamanho e 2 maiores; já os Polvos apenas 8, todos iguais), que permitem em geral ao animal andar, nadar, capturar e imobilizar as presas (intenso mecanismo de ataque e defesa), e a massa visceral posterior. Corpo totalmente revestido pelo manto, tendo na sua parte ventral o denominado sifão ou hyponomo, que participa na respiração ao eliminar a água proveniente das brânquias (trás o aproveitamento do oxigênio), para a eliminação dos dejetos, bem como os produtos sexuais (ovoposição) , e permitir alem ao animal mover-se com grande rapidez, quando preciso, expulsando com forca a água retida na cavidade palial (canal de comunicação com o exterior). Animais de concha ausente (Polvos), interna (Sépias e Lulas) ou externa (Nautilus – exótico do Indo-Pacifico).

 

               Conforme especialistas (RIOS 2009: 610 - 649), atualmente são conhecidas/ registradas para o litoral oceânico do Brasil em geral um total de 86 espécies de moluscos Cefalópodes (Cephalopoda), incluídas em 66 gêneros e 33 famílias. Previamente, há exata uma década, para nossa línea costeira e plataforma continental eram estimadas um total de apenas 60 formas, com 45 espécies para então conhecidas, incluídas em 31 gêneros e 15 famílias (SIMONE 1999: 133 – Tabela 1). Destas, pelo menos 5 são hoje consideradas com alto potencial quanto recurso pesqueiro passível de exploração industrial, sendo que apenas outras 3 resultam de interesse Conquiliológico, os fascinantes e diferenciados moluscos objeto da nossa atenção nesta oportunidade.

               Na magistral obra histórica malacológica de zoólogo Eurico Santos (SANTOS 1982: 122-123) particularmente ficou expresso o seguinte (sic) :

 

“... Uma bela coleção de conchas devera possuir as belezas e as raridades. Não poderá faltar uma concha de argonauta perfeita, pois as trazidas a certas praias, pelas correntes, mostram-se sempre defeituosas devido a sua delicada constituição.” (*)

 

(*) https://www.femorale.com.br/shells/thumbpage.asp?family=ARGONAUTIDAE&cod=2940

 

               Hoje, um total de 2 famílias pelágicas monotípicas, 2 gêneros e 3 espécies viventes concretas destes notáveis cefalópodes são conhecidas no território marinho do Brasil  (RIOS 2009: 612, 641; THOMÉ et al 2010: 89-91, 208):

 

Spirula spirula Lamarck, 1801

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Argonauta nodosus Lightfoot, 1786 (*) & Argonauta argo (Linnaeus, 1758) (*)

Clique para ampliar

(*) Nas fêmeas de Argonauta spp, os braços dorsais secretam uma concha externa, que serve de cápsula ovígera, abandonada apos a eclosão, sendo que elas podem deslocar-se arrastando dita concha, flutuando em águas pelágicas, podendo ainda encolher-se dentro dela ao ponto de ocultar-se totalmente (**) ...

 

(**) ARGONAUTA – PELAGIC OCTOPUS

https://rspb.royalsocietypublishing.org/content/early/2010/05/18/rspb.2010.0155.full.pdf

 

               Para obter maiores informações acerca deste maravilhoso grupo de moluscos marinhos, de interesse Conquiliológico, visite ainda os seguintes endereços virtuais:

 

POLVO DE CONCHA

https://www.conchasbrasil.org.br/curiosidades/default.asp?recid=7

 

ESPÉCIES BRASILEIRAS – CEPHALOPODA

https://www.conchasbrasil.org.br/conquiliologia/familias.asp?idclass=5&idamb=1

 

RECORDES PARA CONCHAS BRASILEIRAS – CLASSE CEPHALOPODA

https://www.conchasbrasil.org.br/records/familias.asp?idclasse=5

 

A MAIOR CONCHA DE MOLUSCO QUE JÁ EXISTIU

https://www.conchasbrasil.org.br/curiosidades/default.asp?recid=2

 

ARGONAUTIDAE – PHOTO GALLERY

https://www.femorale.com.br/shellphotos/thumbpage.asp?family=ARGONAUTIDAE&cod=2940

 

SPIRULIDAE – PHOTO GALLERY

https://www.femorale.com.br/shells/thumbpage.asp?family=SPIRULIDAE&cod=2902

 

 

Referências:

 

+ Jardim, J.A. & Simone, L.R.L. 2010 a. Redescription of Hanleya brachyplax (Polyplacophora, Hanleyidae) from the South-Southeastern Brazilian coast. Papéis Avulsos de Zoologia, São Paulo, 50(40): 623-633. Available online at:  https://www.scielo.br/pdf/paz/v50n40/a01v5040.pdf

+ Jardim, J.A. & Simone, L.R.L. 2010 b. Corrigenda for the paper "Redescription of Hanleya brachyplax (Polyplacophora, Hanleyidae) from the south-southeastern Brazilian coast" by Jardim & Simone (2010). Strombus, São Paulo, 17(1-2): 14-15. Available online at: https://www.conchasbrasil.org.br/strombus/frameset.html  

+ Pitoni, V.L.; Veitenheimer, I.L. & Mansur, M.C.D. 1976. Moluscos do Rio Grande do Sul: coleta, preparação e conservação. Iheringia, Porto Alegre, Sér. Divulgação, ( 5 ): 25-68.

+ Rios, E. de C. 2009. Compendium of Brazilian Sea Shells. Rio Grande, RS: Evangraf, 668 p.

+ Santos, E. 1982. Moluscos do Brasil ( Vida e Costumes ). Belo Horizonte, MG: Editora Itatiaia Limitada, Coleção Zoologia Brasílica, 7, 141 p.

+ Simone, L.R.L. 1999. Filo Mollusca, Cap. 19, pp. 129-136. In: JOLY, C. A. & BICUDO, C. E. M. ( Orgs. ). Biodiversidade do Estado de São Paulo, Brasil: síntese do conhecimento ao final do século XX, 3: Invertebrados Marinhos. São Paulo, SP: FAPESP, XXIV + 310 p.

+ Thomé, J.W.; Gil, G.; Bergonci, P.E.A. & Tarasconi, J.C. 2010. As conchas das nossas praias. Porto Alegre, RS: Redes Editora, 2ª. Edição – Revisada e Ampliada, 224 p.

+ Thomé, J. & Lema, T. de. 1973. Dicionário de Zoologia. Porto Alegre, RS : Editora Globo, 742 p.