Bacia e Vale do Alto Rio Uruguai: uma breve introdução à suas nuances malacológicas ...!

08-09-2012 22:03

Avulsos Malacológicos - AM - Florianópolis, Brazil

 

BACIA E VALE DO ALTO RIO URUGUAI:

UMA BREVE INTRODUÇÃO À SUAS NUANCES MALACOLÓGICAS

 

Ficheiro:Rio Uruguai.JPG

Vale e calha do Alto Rio Uruguai

 

A. Ignacio Agudo-Padrón

Projeto “Avulsos Malacológicos”, Caixa Postal (P.O. Box) 010, 88010-970, Centro, Florianópolis, Santa Catarina, SC, Brasil

ignacioagudo@gmail.com

https://noticias-malacologicas-am.webnode.pt

 

 

O río Uruguai é um dos rios da América do Sul que, junto com os rios Paraná, Paraguai e afluentes, formam a macrobacia do "Plata" e o estuário "Rio de la Plata". Nasce na Serra Geral, no território do Brasil, na confluência dos ríos Canoas (570 km) e Pelotas (437 km), no límite entre os Estados do Río Grande do Sul/ RS e Santa Catarina/ SC, vertendo as suas águas no "Río de la Plata", no Departamento de Colônia (Uruguai) e a Provincia de Entre Rios (na Argentina), recebendo ainda no seu último trecho (na márgem occidental) alguns braços fluviais do Paraná.

https://www.scielo.br/pdf/sn/v22n1/04.pdf

 

As nascientes do rio Uruguai encuentram-se a uma altura aproximada de 1.800 msnm, embora na confluência do Canoas com o Pelotas se encuentre a uns 440 metros de altura. Ao principio, segue a direção Este-Oeste, até receber na sua márgen direita as águas do rio Peperi-guaçú/ SC, momento no qual começa a torcer para o Sudoeste. A partir dessa altura, serve como divisa natural entre Argentina (Província de "Misiones") e Brasil, passando pelo majestuoso "Salto do Yucumã" no Parque Estadual do Turvo/ RS (a maior cachoeira/ queda d'água longitudinal do mundo, com 1,8 km de extensão e até 20 m de altura), até o ponto no qual recebe as àguas do rio Quaraí, afluente desde a márgen esquerda que sirve pela su vez como divisa natural entre Brasil e Uruguai.

 

Ficheiro:Mocona9.jpg

Ficheiro:Mocona5.jpg

Salto do Yucumã, Parque Estadual do Turvo/ RS

 

Junto ao río Paraná, forma a Bacia do "Río de la Plata". Até esse ponto se contabilizam sus 1.770 km de extensão, dos quais 1.262 correspondem ao trecho entre as suas nascentes e a confluência com o Quaraí. Os 508 km restantes transcorrem interamente entre terras Uruguaias e Argentinas. Sim se considera ainda o sistema Pelotas-Uruguai, o rio alcança os 2.340 km.

Ponto exato de encontro dos rios do Peixe e Pelotas, entre Piratuba/ SC e Marcelino Ramos/ RS

 

Durante décadas se debate qual é o nascedouro do rio Uruguai.

"A geografia oficial brasileira adota a junção dos rios Canoas e Pelotas", mas todos que moram na região do Alto Uruguai adotam a junção do "rio do Peixe com o rio Pelotas" como sendo o local de nascimento do rio Uruguai.

Registre-se que nas documentações referentes às propriedades rurais, emitidas pelo Estado do Rio Grande do Sul/ RS (ainda na época do governo de Antônio Augusto Borges de Medeiros), tem-se como nascedouro do rio Uruguai a junção entre o rio Pelotas e o rio do Peixe.

 

                                              De acordo as suas características hidrográficas, o rio Uruguai pode ser considerado físicamente composto por 3 seções: superior (do nosso imediato interesse), média e inferior:

 

https://4ccr.pgr.mpf.gov.br/informes/pdfs/rio_uruguai_regiao_hidrografica.pdf

 

  • A parte superior do seu curso/ calha é rápida e pouco navegável. Compreende o percurso do rio desde a confluência do Pelotas e o Canoas até a foz do rio Piratini, no RS, com uma extensão de 816 km e um desnível de 43 cm/km.
  • A seção média encuentra-se entre a foz do Piratini e a localidade Uruguaia de Salto. Com uma extensão de 606 km, o desnível neste tramo é de 9 cm/km.
  • O tramo inferior é aquele compreendido entre Salto e Nueva Palmira/ Uruguai, sendo o de menor extensão  (com um total de 348 km) e também o de menor desnível, com uma pendente média de apenas 3 cm/km.

A partir da confluência do rio Quaraí (limite Norte entre Uruguai e Brasil) a sua vazão está ocupada por numerosas ilhas e bajos fundos rochosos. Importantes afloramentos de basalto determinam os saltos denominados Salto Grande e Salto Chico

 

https://www.natbrasil.org.br/Docs/cartilha_rio_uruguai/hidro2.pdf

 

 

Foto: A nossa

 

"... De acordo com estudos iniciais já realizados, a Bacia do Rio Uruguai ** destaca-se regionalmente por ser um dos "Hotspots" do mundo. É o rio com a maior biodiversidade de moluscos na América Latina (Agudo-Padrón 2011: 40). No caso específico dos Bivalvia de água doce em Santa Catarina/ SC, por exemplo, as maiores ocorrências de espécies verificadas correspondem justo ao Alto Rio Uruguai, na região Oeste do Estado, contabilizando 23 do total de 28 formas assim reconhecidas (Agudo 2005; Agudo-Padrón 2011: 38, 2012: 38-39) ..." *

 

Conforme PEREIRA et al. (2012: 87-Fig. 10) a bacia hidrográfica do Uruguai detenta, no Brasil, o 3ro. lugar (42, 18%) quanto a número e percentual de espécies de moluscos bivalves límnicos citados. +

 

* AGUDO, A.I. 2005. The freshwater mussels/naiads of Upper and Medium sessions of the Uruguay River Basin, Southern Brazil: a brief approach to its knowledge. FMCS Newsletter Ellipsaria, 7(2): 9-10. Available online at: https://molluskconservation.org/EVENTS/ELLIPSARIA/Ellipsaria2005_72.pdf

    ////

 

* AGUDO-PADRÓN, A.I. 2011. Evaluative summary of the Santa Catarina's State mollusk fauna, Central Southern Brazil, after 15 years of research. FMCS Newsletter Ellipsaria, Illinois, 13(4): 37-46. Available online at: https://molluskconservation.org/EVENTS/ELLIPSARIA/EllipsariaDec2011.pdf

 

* AGUDO-PADRÓN, A.I. 2012. Nuevos aportes a la lista sistemática de moluscos continentales ocurrentes en el Estado de Santa Catarina, Brasil (New contributions to the systematic list of continental molluscs occurring in the State of Santa Catarina, Brazil). Amici Molluscarum, Sociedade Malacológica de Chile (SMACH), 20(1): 35-42. Disponible en: https://www.amicimolluscarum.com/números/ 

 

+ PEREIRA, D.; MANSUR, M.C.D. & PIMPÃO, D.M. 2012. Identificação e diferenciação dos bivalves límnicos invasores dos demais bivalves nativos do Brasil, Cap. 5, pp. 75-94. In: MANSUR, M.C.D. ... [et al] (Orgs.). Moluscos límnicos invasores no Brasil: biologia, prevenção e controle. Porto Alegre, RS: Redes Editora, 2012, 412 p. 

 

** Etimologicamente, Uruguay (= Uruguai) significa Rio de los caracoles (= Rio dos caracóis) ... Este significado surge a partir de uma interpretação feita no final do século XVIII pelo Eng. José María Cabrer, quem acompanhou ao naturalista espanhol Félix de Azara em algumas das suas viagens pela região do "Rio de la Plata", as "Misiones" e Paraguai.

 

Divideu a palavra em URUGUÁ (= Caracol) e Y (= I = água, rio).***

 

Uma pesquisa apresentada em 2010 pelo conceituado malacologista uruguayo Cristhian Clavijo, do "Museo Nacional de História Natural" sediado em Montevideo, apóia esta tese. Assim mesmo, as pesquisadoras Irene Cocchi e Rosario Gutiérrez, autoras do livro "En el país de los caracoles, Uruguay" (= No pais dos caracóis, Uruguai), subscrevem dita conclusão: ... os aborígens, habitantes originais da região, estariam fazendo referência a uma espécie de molusco que faz parte da fauna endêmica deste río, o caramujo Asolene (Pomella) megastoma (Sowerby, 1825) ****, gastrópode límnico pertencente à família AMPULLARIIDAE.

O fato é que os aborígens se utilizavam destes caracóis  (caramujos) como alimento, e também em alguns rituais. As grandes quantidades achadas em sepultamentos demonstrariam a importância que tinham estes moluscos para esses antigos povoadores da região.

 

*** https://www.elpais.com.uy/101008/pciuda-520474/informe/presentan-tesis-del-nombre-uruguay/


Posturas/ ovoposição de gastrópode

Asolene (Pomella) megastoma (Sowerby, 1825)

- a esquerda observam-se espécimes do "mexilhão-dourado" invasor, Limnoperna fortunei -

Localidade:

Rio "Bernardo José", afluente Rio Pelotas, entre Municípios de Barracão & Pinhal da Serra, Rio Grande do Sul/ RS, região do Alto Rio Uruguai

(novo registro histórico/ geográfico para esta espécie)

Foto:

Técnico BAESA Deison Hack, 14/06/2012

Cortesía:

Limnólogo Prof. Érico Porto Filho

(UFSC e SOCIOAMBIENTAL, Florianópolis/ SC)

 

Distribuição conhecida da espécie no Estado de Santa Catarina/ SC

 

**** https://www.applesnail.net/content/species/asolene_pomella_megastoma.htm

https://noticias-malacologicas-am.webnode.pt/extremo-oeste-sc/#dsc5308-sede-capela-itapiranga-sc-janeiro-de-2012-jpg

https://noticias-malacologicas-am.webnode.pt/extremo-oeste-sc/#dsc5311-sede-capela-itapiranga-sc-janeiro-de-2012-jpg

 

                                     Notadamente, importantes e "inesperadas" formas raras já foram detectadas recentemente no setor, tais como o bivalve Anodontites moricandi (Lea, 1860) (Agudo-Padrón 2008: 171, 2012: 38)*, espécie nativa escassamente conhecida no âmbito científico (Pereira et al. 2012: 89 - Tabela III)**, ainda considerada na literatura especializada como "provávelmente extinta" (Simone 2006: 277)***.

Anodontites moricandi

Foto cortesía:

Limnólogo Prof. Érico Porto Filho

(UFSC e SOCIOAMBIENTAL, Florianópolis/ SC)

 

                                       Reconhecida pelos especialístas como "endêmica da bacia do Rio São Francisco", dramáticamente já foi encontrada (pela 1ra. vez no Alto Rio Uruguai) sob condições de "séria ameaça de extinção", por conta da abundante presença populacional dos exóticos invasores asiáticos Corbicula largillierti (Philippi, 1844), Corbicula fluminea (Müller, 1774) e, mais recentemente, do mexilhão-dourado asiático bioincrustante Limnoperna fortunei (Dunker, 1857) na bacia do Rio Canoas*, todo o qual dá uma boa idéia do escasso conhecimento que ainda prevalece acerca das nuances que envolvem a malacofauna límnica regional.  

 

* Foto cortesía:

Limnólogo Prof. Érico Porto Filho

(UFSC e SOCIOAMBIENTAL, Florianópolis/ SC)

 

https://noticias-malacologicas-am.webnode.pt/limnoperna-fortunei/

 

 

Anodontites moricandi & Corbicula spp.

Foto cortesía:

Limnólogo Prof. Érico Porto Filho

(UFSC e SOCIOAMBIENTAL, Florianópolis/ SC)

 

Corbicula largillierti, centro & Corbicula fluminea, superior e inferior

Foto cortesía:

Limnólogo Prof. Érico Porto Filho

(UFSC e SOCIOAMBIENTAL, Florianópolis/ SC)

 

Evento de Tanatocenose

(morte não seletiva consequencia de seca/ estiagem prolongada)

em população mista local de Corbicula spp

( evidência da "alta densidade populacional" destes exóticos invasores ocorrente na região )

Fotos cortesía:

Limnólogo Prof. Érico Porto Filho

(UFSC e SOCIOAMBIENTAL, Florianópolis/ SC)

 

 

COLEÇÃO CIENTÍFICA DE MOLUSCOS DA PUCRS,

PORTO ALEGRE/ RS

https://www.pucrs.br/mct/colecoes/malacologia/colecao_moluscos.html

 

 

* AGUDO-PADRÓN, A.I. 2008. Listagem sistemática dos moluscos continentais ocorrentes no Estado de Santa Catarina, Brasil (Systematic list of freshwater and land molluscs of Santa Catarina State, Brazil). Comunicaciones de la Sociedad Malacológica del Uruguay, Montevideo, 9(91): 147-179. Available online at: https://redalyc.uaemex.mx/redalyc/pdf/524/52412049003.pdf

 

* AGUDO-PADRÓN, A.I. 2012. Nuevos aportes a la lista sistemática de moluscos continentales ocurrentes en el Estado de Santa Catarina, Brasil (New contributions to the systematic list of continental molluscs occurring in the State of Santa Catarina, Brazil). Amici Molluscarum, Sociedade Malacológica de Chile (SMACH), 20(1): 35-42. Disponible en: https://www.amicimolluscarum.com/números/    

 

** PEREIRA, D.; MANSUR, M.C.D.  & PIMPÃO, D.M. 2012. Identificação e diferenciação dos bivalves límnicos invasores dos demais bivalves nativos do Brasil, Cap. 5, pp. 75-94. In: MANSUR, M.C.D. ... [et al] (Orgs.). Moluscos límnicos invasores no Brasil: biologia, prevenção e controle. Porto Alegre, RS: Redes Editora, 2012, 412 p.

 

*** SIMONE, L.R.L. 2006. Land and freshwater molluscs of Brazil. São Paulo, SP: FAPESP, 390 p.  

 

 

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