Pré-História "sambaquiana" no Sul do Brasil ! ...

22-07-2011 14:29

 

 Avulsos Malacológicos - AM - Florianópolis, Brazil

 

PRÉ-HISTÓRIA “SAMBAQUIANA” NO SUL DO BRASIL

 

Os aborígines da Pré-História brasileira (isto é, anteriores à chegada de Cabral) moravam em aldeias, tanto no interior como no litoral. Por isso, na arqueologia nacional fala-se em "Sítio Arqueológico de Interior e Sítio Arqueológico de Litoral", este último também conhecido como SAMBAQUI. As aldeias de aborígines no litoral ficavam à beira-mar ou junto a rios, e viviam da caça, pesca e da coleta de conchas e frutos silvestres.

 

 

 

 

 

Fonte:

            Arqueologia, Os detetives do tempo. São Paulo, SP: Abril Jovem S.A., Coleção "Disney Sabe-Tudo", no. 4, p. 14

 

“... Os indígenas do Rio Grande do Sul foram grandes apreciadores de moluscos marinhos e mesmo de caracóis terrestres, o que se comprova pelos montes de conchas que se localizam em diversas regiões ao longo do nosso litoral e que recebem a denominação de “sambaquis. ... as “náiades” de águas doces bem como os grandes “caracóis” terrestres são de alto valor nutritivo ...” (Thomé 1971: 12).

 

Fonte:

Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville - MASJ

https://noticias-malacologicas-am.webnode.pt/cole%c3%a7%c3%a3o%20masj/ 

 

Museu Arqueológico do Rio Grande do Sul - MARSUL ( RS 020, Km 04 Estrada: Taquara - São Francisco de Paula )

 

Também conhecido como Casqueiro, Concheira ou Ostreira (em São Paulo, SP e Santa Catarina, SC), Mina de Cernambi ou Mina (na Bahia, BA), Berbigueiro ou Berbigueira, Caieira ou Caleira (em outros pontos do pais), ou simplesmente Cemiterio Indigena (Cavallazzi 2001; Rodrigues 2002), os Sambaquis são enormes acúmulos pré-históricos erguidos em baias, praias, ou na foz de grandes rios, fundamentalmente constituidos ou formados de conchas/cascas de moluscos (de ali a própria orígem da palavra Tupi SAMBAQUI, que significa "amontoado de conchas"), com datas de 6 mil a mil anos a.C. (antes de Cristo), que podem formar altos morros (o maior do planeta, com 31 metros de altura, equivalente a um prédio de 10 andares, com 200 metros de comprimento e 100 de largura, é conhecido da "Ponta da Garopaba do Sul", e se encontra localizado em Jaboticabeira, Jaguaruna(*), perto do "Farol de Santa Marta", na região Sul do Estado de Santa Catarina, SC ).

(*)Com registro de 43 mil sepultamentos humanos ao longo de mil anos (Ratier 2003) , sendo que o esqueleto mais antigo encontrado em Sambaquis Catarinenses data de 5 mil anos (Liberato Junior 2001).

 

Tais monumentos de grande valor Arqueológico e Paleontológico são atual objeto de especial atenção por parte do Instituto de Preservação do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN no Sul do Estado de Santa Catarina (Liberato Junior 2001; Rodrigues 2002 a).

Conforme informam arqueólogos e paleontólogos pesquisadores, sabe-se pouco à respeito dos hábitos dos povos que construiram os Sambaquis. Até hoje não se sabe como esta civilização surgiu e desapareceu. Segundo informações disponiveis (Cavallazzi 2001; Rodrigues 2002 b) o desaparecimento das populações sambaquianas, hà 2 mil anos, coincide com a chegada dos indigenas Guarani, que migraram da Amazonia.

Os povos pré-históricos Sambaquianos habitaram as regiões litorais que circundam os Sambaquis dos diferentes lugares em diferentes períodos (Bianchini 2002). Recentes pesquisas revelaram que esses povos antigos tinham uma organização social mais complexa do que se imagina, e que foram alem exímios canoeiros (Liberato Junior 2001). Os de Santa Catarina, SC, por exemplo, viveram ha cerca de 6 mil anos a.C. e sua etnia não é certa, composta por pessoas cuja estimativa de vida girava em torno dos 30 a 35 anos (Bianchini 2002), acreditando-se que baseavam sua dieta em peixes e frutas que colhiam, pois não dominavam a agricultura, sendo então que basicamente comiam o que vinha do mar.

Pesquisas recentes revelam que as populações que viveram entre 3 mil anos a.C. ate o ano 0 tinham uma dieta essencialmente marinha, principalmente moluscos e peixes, sendo que os estudos feitos indicam que a alimentação marinha destes povos que habitaram o litoral foi responsável pela sua qualidade de vida, a melhor entre as civilizações que viveram nas Américas (Rodrigues 2002 b) - o "Homem do Sambaqui" possuia excelente condição de saúde devido ao hábito de caça e coleta de moluscos , inclusive terrestres(*), algas e frutas. Entretanto, os grupos humanos que ergueram os Sambaquis apresentaram mais caries que os seus sucessores, possivelmente horticultores, baseado nas boas condições de saúde bucal revelado por estudos recentes paleontológicos feitos em sofisticados laboratórios (Rodrigues 2002 b).

(*)"... Os indigenas do Rio Grande do Sul foram grandes apreciadores de moluscos marinhos e mesmo de caracois terrestres, o que se comprova pelos montes de conchas que se localizam em diversas regioes ao longo do nosso litoral e que recebem a denominação de "sambaquis ..." (Thome 1971: 12). "... Pelo ano de 1923 a Professora, Naturalista e Historiadora Maria Stella de Morais publicou seu trabalho "Moluscos" nas suas relações com a Geologia. Com o estudo dos "Sambaquis", isto desde 1589, Gaspar Soares em seu "Tratado Descritivo do Brasil", ja se refere a verdadeira listagem de moluscos comidos pelo homem pré-histórico americano ..." (Oliveira & Almeida 2000: 50).

 

O SAMBAQUI NO LITORAL DE SANTA CATARINA - SC

A pesquisa arqueológica brasileira tem se dedicado ao estudo sistemático da ocupação da costa por pescadores e coletores que se instalaram na faixa litorânea por volta de 6.500 anos AP (Antes do Presente), sendo o principal vestígio desse grupo o tipo de sitio denominado Sambaqui (também conhecido como Cemitério Indígena, Casqueiro ou Berbigueiro), tema de interesse cientifico desde a 2da. metade do século XIX. Encontrados em toda a costa do Brasil (estima-se a existência de pelo menos 900, 100 somente no Estado de Santa Catarina), Sambaqui e uma palavra de etimologia Tupi, língua falada pelos horticultores e ceramistas que ocupavam parte significativa da costa brasileira quando os europeus iniciaram a colonização. "Tamba" significa CONCHAS e "Ki" AMONTOADO, que são as características mais marcantes desse tipo de sitio, caracterizados básicamente por serem uma elevação de forma arredondada que, em algumas regiões do Brasil, chega a ter mais de 30 m de altura, construídos básicamente com restos faunisticos como conchas, ossos de peixe e mamíferos, sendo que os restos que mais sobressaem na composição dos Sambaquis são as conchas de Berbigao ou Vongolé (Anomalocardia brasiliana), diferentes espécies de Ostras, a Almejoa Lucina pectinata, e os Mariscos (Gaspar 2000: 8-10 ).

 

 

 

 

 

  

Localização aproximada das principais áreas com Sambaquis conhecidos ao largo da orla marítima do Estado de Santa Catarina
Adaptado de RODRIGUES (2002)

 

 

TESTEMUNHAS DE UM EXTINTO PATRIMÔNIO ARQUEOLÔGICO

 

No acervo arqueológico do Museu do Parque Cyro Gevaerd, da SANTUR - Camboriú, SC, procedente de Sítio (Sambaqui) da Praia das Laranjeiras (no Município de Camboriú), contam-se 2 espécimes de moluscos pulmonados terrestres Megalobulimus elongatus (Bequaert, 1948) em estado fóssil, conjuntamente com várias espécies de moluscos marinhos que serviam de fonte alimentar aos moradores pré-históricos daquela região costeira, assim como mais um espécime (pelo visto da mesma espécie) formando parte de sepultamento humano fóssil, com registro de catálogo interno do Museu nº 158 (concha localizada a direita do torax), todos com datação aproximada de 4.990 a.C. , o que evidencia a importância que os hoje chamados "Aruás-do-mato" já tinham para o homem do Brasil primitivo não só no diário sustento alimentício mas também nos seus possíveis atos rituais e funerários (o nosso Arquivo Malaco-Fotográfico possui no seu acervo 13 peças que ainda documentam os fatos expostos). Exemplares da espécie antes mencionada, procedentes do Sitio Arqueológico Laranjeiras II (Cerâmica Itararé), encontram-se ainda depositados no "Museu do Homem do Sambaqui" do Colégio Catarinense, com sede em Florianópolis (Farias 2000).

 

 

MUSEU DO HOMEM DO SAMBAQUI

https://www.cienciamao.usp.br/tudo/exibir.php?midia=mcc&cod=_museudohomemdosambaquipadrejoaoalfredorhor  

https://www.megailha.com/album/index.php?album=207 

https://www.viajeiro.com.br/place/florianopolis/museu-do-homem-do-sambaqui

 

FARIAS (2000: 16, 18, 21) reporta para o "Museu do Homem do Sambaqui", com sede em Florianopolis, as espécies de gastrópodes pulmonados terrícolas Megalobulimus oblongus (Müller, 1774), procedentes do Sitio Arqueologico Laranjeiras II, localizado entre Itapema e Balneário Camboriú, ao Norte da Grande Florianópolis (com datação estimada entre os séculos IX e XII, o que vem demostrar que a espécie já era consumida por aborígens na região pelo menos desde 7 séculos antes da chegada dos europeus portugueses ao atual território do Brasil, no século XVI), e Cyclodontina sp, da costa Centro-Leste da Ilha de SC ??? ...

 

Referências:

+ BIANCHINI, F. 2002. O romance de seis mil anos. Florianópolis, SC: Jornal "Diario Catarinense", Domingo 24 de Novembro de 2002, Revista DC, pp. 4-5.

+ CAVALLAZZI, J. J. 2001. Ossada pode revelar casos de violência. Florianópolis, SC: Jornal "Diario Catarinense, Domingo 9 de Dezembro de 2001, p. 4.

+ FARIAS, T. Z. 2000. Malacofauna do Museu do Homem do Sambaqui. Florianópolis, SC: UFSC, TCC Bacharel Ciências Biológicas, 34 p.

+ GASPAR, M. 2000. Sambaqui: arqueologia do litoral brasileiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 89 p.

+ LIBERATO Jr., G. 2001. Arqueólogos propoem parque pré-histórico. Florianópolis, SC: Jornal "Diario Catarinense", Domingo 1 de Abril de 2001, p. 4.

+ OLIVEIRA, M. P. de & ALMEIDA, M. N. de. 2000. Malacologia. Juiz de Fora, MG: Editar Editora Associada, 215 p.

+ RATIER, R. 2003. O que são Sambaquis ?. São Paulo, SP: Mundo Estranho, Super Interessante Especial, Edição 13, Março de 2003, pp. 22-23.

+ RODRIGUES, P. 2002 a. SC investe no maior Sambaqui do mundo. Florianópolis: Jornal "Diário Catarinense", Quinta-feira 29 de Agosto de 2002, p. 24.

+ RODRÍGUES, P. 2002 b. Indios de SC tinham saúde de ferro. Florianópolis, SC: Jornal "Diario Catarinense", Domingo 3 de Novembro de 2002, pp. 30-31.

+ THOMÉ, J. W. 1971. Os moluscos da pré-história aos nossos dias. Iheringia, Porto Alegre, Ser. Divulgação., (1): 11-16.

 

 

 OUTRAS FONTES DOCUMENTAIS DE INTERESSE:

Retiro "Vila Fátima", Morro das Pedras, Ilha de Santa Catarina, SC

( Fotos )

 https://www.anchietano.unisinos.br/equipe/Rohr/rohr.htm

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https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-77012007000100001

https://www.museudavida.fiocruz.br/brasiliana/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=354&sid=33

https://www.cleber.com.br/sambaqui.html